segunda-feira, abril 27, 2009

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus — ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não”.

Manoel Bandeira
O seu olhar


o seu olhar lá fora
o seu olhar no céu
o seu olhar demora
o seu olhar no meu
o seu olhar seu olhar melhora
melhora o meu

onde a brasa mora
e devora o breu
onde a chuva molha
o que se escondeu
o seu olhar seu olhar melhora
melhora o meu

o seu olhar agora
o seu olhar nasceu
o seu olhar me olha
o seu olhar é seu
o seu olhar seu olhar melhora
melhora o meu

Arnaldo Antunes / Paulo Tatit - 1995

Ninguém pode construir em teu lugar
as pontes que precisarás passar,
para atravessar o rio da vida
- ninguém, exceto tu, só tu.
Existem, por certo, atalhos sem números,
e pontes, e semideuses que se oferecerão
para levar-te além do rio;
mas isso te custaria a tua própria pessoa;
tu te hipotecarias e te perderias.
Existe no mundo um único caminho
por onde só tu podes passar.
Onde leva? Não perguntes, segue-o!”

Nietzsche

sábado, abril 25, 2009


A lei interna é: se você não dá, você perde; se você dá, você conserva. Quanto mais você dá, mais você tem. Quanto menos você dá, menos você tem. Se você não der nada, nada terá, ficará completamente vazio, um túmulo, e dentro do túmulo não há qualquer possibilidade de uma flor desabrochar. As flores necessitam do sol, da chuva, do vento, das estrelas, do céu, dos pássaros. Por mais delicada que ela seja, ela necessita abrir-se para a existência. Em tal abertura, a fragrância é liberada, o esplendor que estava preso é liberado.


Dentro de um túmulo não há qualquer possibilidade de rosas desabrocharem, mas existe a possibilidade de cobras, escorpiões e aranhas; tudo o que é feio e venenoso. Se o túmulo está completamente fechado, o seu próprio ar se torna veneno.

É preciso um pouco de coragem para fazer da vida uma celebração. Vida significa estar junto, com a existência, com as árvores, com os rios, com as pedras, com as pessoas, com os animais, com tudo o que é. A única maneira de tornar a sua vida rica é relacionar-se com ela multidimensionalmente. Quanto mais você se relaciona, mais multidimensional você é, mais rico você é, mais você cresce e desabrocha.


(...)

Ainda há tempo. Abandone esta idéia estúpida de estar à distância, separado e isolado. Isto você pode fazer depois que morrer! Então você terá tempo, mais do que suficiente... Mas enquanto você estiver vivo, enquanto esta imensa oportunidade estiver sendo dada a você, viva-a, alegre-se com ela.

O seu coração é um poço. Se ele for mantido fechado, você não captará a energia do universo fluindo para você. Continue se esvaziando e você ficará surpreso: quanto mais se esvaziar, mais cheio você ficará. Por isto é que Gautama, o Buda, enfatiza a palavra shunya, zero. Torne-se um zero! Se você quiser tornar-se cheio, a sua mensagem é, simplesmente se torne vazio, um nada, só espaço, puro espaço, um espaço sem limites contendo nada. Apenas esvazie-se totalmente e, você não será capaz de acreditar, um milagre acontece.


Quando você está totalmente vazio, a existência toda entra em você. Todas as estrelas estão dentro de você, assim como o sol e a lua. De repente você se vê tão vasto quanto o universo. Ser nada é a única maneira de ser tudo. Ser ninguém é a única maneira de ser divino. O vazio traz o divino.


E não se preocupe com seu amor ficando perdido; nada jamais é perdido. O mundo sempre contém a mesma quantidade de tudo, nem mais nem menos. Isso agora é um fato científico: não existe um simples átomo a menos ou a mais do que o que sempre existiu. A quantidade do universo permanece absolutamente a mesma, pois de onde alguma coisa nova pode vir? A existência compreende tudo, não existe 'algum outro lugar'. E para que outro lugar qualquer coisa pode ir? Não existe outro lugar para se ir, assim, nada jamais é perdido. Talvez possa demorar um pouco mais para se alcançar a pessoa certa, mas sempre se alcança. Cante a canção e não se preocupe! Ela alcançará a pessoa certa no tempo certo. Se não for hoje, será amanhã, se não for nesta sua vida, então em algum outro tempo. Mas ela alcançará, com certeza. Ela sempre encontra a pessoa certa que pode absorvê-la. Simplesmente cante a canção. Não se preocupe com quem ela irá alcançar; toda a sua preocupação deve ser: cantar com totalidade, e isso é tudo. Mais do que isso, não é exigido de ninguém. Não lhe cabe saber se ela será ouvida ou não.


Quando uma flor nasce no meio de uma selva, ela não está preocupada se alguém vai passar por ali, 'para conhecer a linda fragrância que ela está liberando', ela simplesmente libera a fragrância. Se ela alcançar alguém para cheirá-la, ótimo; se ela não alcançar, qual o problema? A flor desabrochou, ela se ofereceu ao universo. Agora fica por conta do universo fazer o que quiser com ela. Nada jamais é perdido, desviado ou rejeitado.


Mas as pessoas se sentem muitas vezes rejeitadas porque antes mesmo delas darem algo, já existe a expectativa. Se sua expectativa não for satisfeita, elas se sentem rejeitadas. É a expectativa que está criando problema, não o amor.


Dê o amor sem qualquer corda amarrando-o. Dê o amor pelo puro prazer de dar. Alegre-se dando-o. Simplesmente abra o seu coração... E abra-o totalmente, sem quaisquer expectativas e condições. É certo que ele alcançará o coração certo; isto sempre acontece.


Tudo que nasce será destruído, por isso, antes que ela seja destruída, permita que ela tenha a sua dança.



OSHO - Zen: Zest, Zip, Zap and Zing - Capítulo 12

quinta-feira, abril 23, 2009

Sawabona
Sobre estar sozinho


Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o inicio deste milênio. As relações afetivas também estão passando por profundas transformações e revolucionando o conceito de amor.

O que se busca hoje é uma relação compatível com os tempos modernos, na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer de estar junto, e não mais uma relação de dependência, em que um responsabiliza o outro pelo seu bem-estar. A idéia de uma pessoa ser o remédio para nossa felicidade, que nasceu com o romantismo, está fadada a desaparecer neste início de século. O amor romântico parte da premissa de que somos uma fração e precisamos encontrar nossa outra metade para nos sentirmos completos.

Muitas vezes ocorre até um processo de despersonalização que, historicamente, tem atingido mais a mulher. Ela abandona suas características para se amalgamar ao projeto masculino. A teoria da ligação entre opostos também vem dessa raiz: o outro tem de saber fazer o que eu não sei. Se sou mansa, ele deve ser agressivo, e assim por diante. Uma idéia prática de sobrevivência, e pouco romântica, por sinal.

A palavra de ordem deste século é parceria. Estamos trocando o amor de necessidade pelo amor de desejo. Eu gosto e desejo a companhia, mas não preciso, o que é muito diferente. Com o avanço tecnológico que exige mais tempo individual, as pessoas estão perdendo o pavor de "ficar sozinha", estão aprendendo a conviver melhor consigo mesmas. Elas estão começando a perceber que se sentem fração, mas são inteiras. O outro, com o qual se estabelece um elo, também se sente uma fração. Não é príncipe ou salvador de coisa nenhuma. É apenas um companheiro de viagem.

O homem é um animal que vai mudando o mundo, e depois tem de ir se reciclando para se adaptar ao mundo que fabricou. Estamos entrando na era da individualidade, o que não tem nada a ver com egoísmo. O egoísta não tem energia própria; ele se alimenta da energia que vem do outro, seja ela financeira ou moral.

A nova forma de amor, ou mais amor, tem nova feição e significado. Visa a aproximação de dois inteiros, e não a união de duas metades. E ela só é possível para aqueles que conseguirem trabalhar sua individualidade. Quanto mais o indivíduo for competente para viver sozinho, mais preparado estará para uma boa relação afetiva.

A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso! Ao contrário, dá dignidade à pessoa. As boas relações afetivas são ótimas, são muito parecidas com o ficar sozinho, ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem. Relações de dominação e de concessões exageradas são coisas do século passado. Cada cérebro é único.

Nosso modo de pensar e agir não serve de referência para avaliar ninguém. Muitas vezes, pensamos que o outro é nossa alma gêmea e, na verd ade, o que fizemos foi inventá-lo ao nosso gosto. Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando, para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal. Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontradas dentro dele mesmo, e não a partir do outro.

Ao perceber isso, ele se torna menos crítico e mais compreensivo quanto às diferenças, respeitando a maneira de ser de cada um. O amor de duas pessoas inteiras é bem mais saudável. Nesse tipo de ligação há o aconchego, o prazer da companhia e o respeito pelo ser amado. Nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem de aprender a perdoar a si mesmo...

PS: Caso tenha ficado curioso(a) em saber o significado de SAWABONA, é um cumprimento usado no sul da África e quer dizer:
"EU TE RESPEITO, EU TE VALORIZO, VOCÊ É IMPORTANTE PRA MIM".

Em resposta, as pessoas dizem SHIKOBA, que significa algo como:
"ENTÃO EU EXISTO PRA VOCÊ".


Flávio Gikovate - psiquiatra
A dor faz parte do crescimento. Sempre que algo doer é porque algo dentro de você está sendo reprimido. Em vez de tentar evitar a dor, vá na sua direção. Deixe que doa ferozmente. Deixe que doa completamente, para que a ferida seja totalmente aberta. Uma vez que esteja totalmente aberta, a ferida começará a se curar. Se evitar esses espaços nos quais sente dor, eles permanecerão dentro de você e você irá reencontrá-los várias vezes.


Osho
Texto gentilmente cedido pelo blog "Palavras de Osho"

domingo, abril 19, 2009


O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,

Porque o vejo.
Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele

(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...

Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,

E a única inocência não pensar...



Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos"

quinta-feira, abril 16, 2009

Quando estiver com uma pessoa, lembre-se que essa pode ser a última vez. Não desperdice a oportunidade com trivialidades, não crie problemas e conflitos sem importância.
Quando a morte está próxima, nada mais importa. Se alguém fez ou disse alguma coisa e você ficou irritado, pare e pense como seria se essa pessoa morresse ou se você morresse.
Que significado teria, então, aquilo que foi dito? Talvez a outra pessoa nem tenha pensado ou dito aquilo com aquela intenção - pode ser apenas uma interpretação sua. Em geral é isso que acontece.
Tudo está em constante mudança. Assim como você não pode se banhar duas vezes no mesmo rio, também não pode se encontrar com a mesma pessoa duas vezes. O mesmo acontece com seus pais, irmãos e amigos. Nada nem ninguém permanece o mesmo. Você mudou, já não é o mesmo. Mas eles também não.
Se você se lembrar dessas duas coisas, o amor florescerá. Encontre a outra pessoa sempre como se fosse a primeira vez. Encontre a outra pessoa sempre como se essa fosse a última vez. É de fato assim que as coisas são.
Então esse pequeno momento de reunião pode trazer uma grande plenitude.


Osho
Texto gentilmente cedido pelo blog "Palavras de Osho"

terça-feira, abril 14, 2009

Nós podemos mudar o mundo, mas não pela luta.
Não desta vez.
Já basta!
Temos que mudar este mundo pela celebração, pela dança, pelo canto, pela música,

pela meditação, pelo Amor, não pela luta.

O velho tem que cessar, para que o novo surja, mas, por favor, não me interprete mal.

Certamente o velho tem que cessar, mas o velho está dentro de você, não fora.
Eu não estou falando das velhas estruturas da sociedade, eu estou falando da velha estrutura

da sua mente, a qual tem que cessar para que o novo surja.


E é incrível, inimaginável, inacreditável como um simples homem abandonando a velha estrutura da mente cria um espaço tão grande para muitos transformarem as suas vidas.
Um simples homem transformando a si mesmo, torna-se um desencadeador.
E então, muitos outros começam a mudar.
A sua presença se torna um agente catalisador.
Esta é a rebelião que eu ensino: você abandona a velha estrutura, você abandona a velha cobiça, você abandona o velho idealismo.
Você se tornar uma pessoa silenciosa, meditativa, amorosa.
Você será mais uma dança e então verá o que acontece.
Alguém, mais cedo ou mais tarde, irá juntar-se à dança com você, e depois, outras pessoas mais.

(....)
A alegria é contagiosa!
Ria e você verá outras pessoas começando a rir.
Assim é com a tristeza; fique triste e alguém olhando para a sua face séria,
de repente se tornará triste.
Nós não somos separados, nós estamos juntos, ligados.
Assim, quando o coração de alguém começa a rir,
muitos outros corações começam a ser tocados,
algumas vezes até corações distantes.

( Osho, The Guest, # 12 )